domingo, 17 de abril de 2011

Apresentação das obras


Apresentação
Penso, logo existo

Jamais havia pensado em publicar livros, tampouco em organizar um e lançá-lo. Mas, se existe algo que aprendi – a duras penas, é verdade! – é que não posso me esconder, pois escondida anulo o melhor de ser humano: o pensamento.
Durante muito tempo escondi em minhas gavetas expressões e pensamentos acerca de diversos assuntos, sem perceber que, ao fazê-lo, escondia também com eles a minha voz. Contudo, não fazia isso por fazer, mas por ter sido condicionada assim. Imagine se algum favelado qualquer, como eu, pode, de alguma forma, dizer ao mundo o que pensa. Não! O pensamento é coisa para os intelectuais, é para os ricos... Para nós não! Para nós, reles mortais da base da pirâmide, só nos resta gastar o nosso pouco, curto e miserável tempo com o trabalho. A máquina precisa funcionar, não é mesmo?! E é com este pensamento que se constroem, dia após dia, ano após ano, gerações e gerações de mudos sociais.
Pensando em dar voz a pensamentos engavetados é que um dia sonhei escrever. Decidi, de maneira independente, publicar um livro. E assim fiz. Muito ousada para uma favelada, não é verdade?! Claraboia é o nome do meu livro de estreia. Não direi que foi um sucesso absoluto, que houve fila no dia do lançamento, que a critica literária o aplaudiu de pé. Não! Que nada! No entanto, o livrinho tem cumprido bem o seu propósito primeiro, e isso me é suficiente. O objetivo principal era levar aos moradores de espaços populares -meu público alvo- a semente do pensar e isso, Clarabóia tem feito; assim comenta o pequeno, mas, importante número de leitores que conversa comigo.
A partir dessa experiência pensei: e por que não desengavetar outros pensadores? E es que surge o concurso Prêmio Kairos Poiesis, de poesias e contos. O concurso, com o objetivo de incentivar a produção de textos literários, estimular o hábito de leitura, promover e homenagear autores (era o que dizia o regulamento) tinha como parâmetro de seleção textos em que ficasse clara a disposição do autor em pensar o espaço em que vive, viveu ou conhece (subúrbio ou periferia).
Foram inúmeros os textos e belíssimos, cada um com o seu estilo, tendo sido, entretanto, determinante o fator “pensamento”; aí está o resultado: “Marginal – contos de periferia” e “Poesia Suburbana – entre trilhos e versos”. Dois livros interessantíssimos que revelam o olhar mais profundo daqueles que conhecem “de verdade” esses espaços.
O número reduzido de autores tem como finalidade apresentá-los de forma a valorizar os seus trabalhos. Além do texto selecionado para a coletânea, o leitor também terá a oportunidade de conhecer outros trabalhos do autor, outras formas de pensamento, e poder com eles considerar, avaliar ou até construir o próprio pensamento, misturando o seu saber prévio com a reflexão profunda dos textos lidos.
Desta forma, sinto-me muito feliz em apresentar, leitor querido, o pensar de outros que, como você também existem – *cogito ergo sum (Descartes) – não duvide disso. E que ao ingressarem neste projeto, admitem de alguma forma, o pensamento como o ensaio genuíno da ação. Para que possamos transformar esse estado de coisas em que vivemos é necessário que vozes (pensamentos), sem temor, se levantem e façam barulho, até serem ouvidas, até serem atendidas, até serem entendidas como sujeito também da história.
Para você, Marginal – Contos de Periferia e Poesia Suburbana – Entre trilhos e versos!
Boa leitura!
Adriana Kairos
Organizadora

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Lançamento das Antologias "MARGINAL" e "POESIA SUBURBANA"